Três princípios essenciais
J.-M. Nobre-Correia
Planeta Média : Durante quase sete anos, esta rubrica procurou observar o que se passava nos
média europeus e praticar a crónica segundo os critérios europeus na matéria…
Tudo tem um
princípio. E, ao que parece, tudo tem necessariamente um fim. O que é certo, em
todo o caso, é que esta é a última rubrica “Planeta Média”. Após quase sete
anos e mais exatamente 320 semanas. Pontualmente, aos sábados, sem exceção
alguma, a não ser as quatro semanas de férias de verão previstas por contrato.
E pontualmente com os dois mil carateres da crónica e os mil partilhados em
três breves, apertadamente impostos pela direção precedente do Diário de Notícias.
Três
grandes princípios nortearam a conceção da rubrica. Em primeiro lugar, uma
abordagem dos média e do jornalismo numa perspetiva europeia, procurando
escapar ao “provincianismo” nacional. Abordagem autorizada por mais de 45 anos
de vida no centro da Europa e mais precisamente na “capital” da União Europeia.
Abordagem tanto mais necessária que, para além dos discursos políticos mais ou
menos propagandísticos, Portugal vive cultural, mediática e jornalisticamente
demasiado longe de uma União Europeia de que até é membro.
Procurar,
em segundo lugar, privilegiar dois aspetos. Por um lado, chamar a atenção para
o que põe em evidência o subdesenvolvimento atroz dos média em Portugal. Em
matéria de imprensa, como de rádio, de televisão ou de média digitais. E chamar
a atenção para o estado de um jornalismo demasiado insatisfatório em termos de
qualidade e pouco preocupado com a cidadania dos seus leitores, ouvintes,
espectadores ou internautas. E, por outro lado, chamar também a atenção para as
revoluções tecnológicas, económicas e editoriais que se operam para além das
fronteiras nacionais.
Por
último, praticar um tipo de crónica ontologicamente diferente do que é demasiado
comum nos média deste país. Deixando aqui textos que não são fruto de qualquer
egocentrismo. Nem descaradas louvaminhas a amigalhaços. Nem injuriosos ataques
a inimigos. Nem esperas de benesses de quem quer que seja. Textos preocupados
antes do mais em fazer compreender a dimensão cultural e democrática dos média
e do jornalismo…
Texto publicado no Diário de Notícias, Lisboa, 11 de outubro de 2014, p. 6-7.